Queijo típico vira produto de exportação da Ilha de Marajó.
Com regulamentação da produção, pequenos produtores aumentam sua renda e planejam vender para o Brasil e para o mundo.
Queijo de leite de búfala é um patrimônio cultural da Ilha de Marajó, no Pará.
Produzido há 200 anos seguindo uma técnica tradicional passada de geração
a geração, é conhecido e apreciado em todo o estado como um produto artesanal
de alta qualidade, mas até o ano passado não podia ser vendido fora da ilha por
causa de restrições impostas pela legislação sanitária brasileira.
Essa situação começou a mudar em 2013, quando a comercialização no estado
do Pará foi liberada, e agora as centenárias queijarias da Ilha de Marajó querem
conquistar o Brasil e o mundo.
Como é feito com leite não pasteurizado, o queijo do Marajó tem que passar por
uma rigorosa fiscalização sanitária para poder ser comercializado fora de sua área
de produção, o que impedia as queijarias locais de venderem para fora da ilha.
Para contornar essa situação, uma força-tarefa formada por produtores,
pelo Sebrae, pela Secretaria de Estado de Agricultura do Pará (Sagri-PA) e
pela Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará) elaborou o
Protocolo de Boas Práticas para os Queijos de Búfala do Marajó.
O documento estabelece critérios mínimos de boas práticas na produção do leite
e do queijo da Ilha de Marajó, o que inclui ordenha das búfalas e produção,
armazenamento e transporte do produto. A partir desse protocolo e da lei nº 756
5/2011, que trata dos produtos artesanais no Pará, a Adepará lançou, em
março do ano passado, a portaria 418/2013, que regulamenta a produção e
comercialização no estado do Pará do queijo do Marajó, como o produto é
popularmente conhecido.
A abertura do mercado estadual já está tendo impacto na economia da ilha.
“Tem queijarias que produziam 25 kg por dia e agora já produzem 60 kg/ dia”,
afirma Péricles Diniz Ferreira de Carvalho, analista técnico da unidade de
agronegócio do Sebrae Pará. Antes da regulamentação, o preço do quilo
ficava em torno de R$ 24 para o consumidor, sendo que o produtor vendia
para o atravessador por R$ 20/kg e seu custo de produção girava em torno
de R$ 13/kg. “Hoje, o produtor negocia direto com os clientes, em sua maioria
restaurantes, padarias e hotéis, e o preço chega a R$ 32/kg, o que representa
um lucro melhor para o produtor, já que o valor do custo de produção
continua semelhante”, conta Haroldo Palheta, presidente da Associação
dos Produtores de Leite e Queijo do Marajó, que aprendeu seu ofício diretamente
com o bisavô.
A regulamentação, aliás teve impacto tanto econômico quanto motivacional.
“Além do fator emocional e o orgulho do produtor em ver o seu queijo legalizado,
o produtor sente que agora existe a possibilidade real de aumentar sua renda com
a legalização do queijo”, afirma Palheta.
De olho no futuro
De acordo com números do Sebrae, hoje seis produtores já estão registrados para produzir o queijo de maneira regular. Ainda é pouco, tendo em conta que existem 60 queijarias na Ilha de Marajó. O plano é que com o tempo a regularização aumente, já que ela é mais vantajosa para o produtor, que lucra mais com a venda do produto, lida com o consumidor final e pode aumentar a empresa, contratar mais gente e aumentar a produção. “Agora os produtores conseguem financiamento porque o negócio é legal. A economia gira mais forte com a regularização do queijo”, defende Carvalho.
Agora, os produtores marajoaras querem conquistar o mercado nacional e, quem
sabe, o internacional. O primeiro passo já foi dado, com o envio ao
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de um pedido de
regularização do queijo em todo o Brasil. “Com a obtenção da autorização
para comércio nacional, o produto passa a ser passível de exportação.
Na realidade, os critérios de exportação são impostos pelos países importadores,
então o tem que ser analisado conforme o caso”, esclarece Marcia Batista Penna,
médica veterinária e gerente de Padronização, Certificação e Fiscalização de
Produtos Artesanais da Adepará.
Animados com a possibilidade de vender para o exterior, os queijeiros
marajoaras já solicitaram ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi)
o registro de denominação de origem. Com isso, o queijo do Marajó seria
reconhecido como um produto único da ilha, garantindo a preservação das
técnicas que fizeram sua fama.
Fonte: Site Terra
Nenhum comentário:
Postar um comentário